"Amanhece. De súbito, pôs-se uma luz cálida e brilhante!...Não sei como é, mas em Roma passa-se assim, quase insensivelmente, da noite ao dia. Espera, levanto a persiana. Olha as duas laranjeiras debaixo da janela. Tem cada uma, precisamente, duas laranjas. São laranjas secas e engelhadas, tal como as que crescem aqui na cidade.
Tal como quando se envelhece e os nossos sentimentos se tornam, um dia, pensamentos."
Sándor Márai
in A mulher certa
Um romance belíssimo que estou a acabar de ler.
Um escritor que estou a descobrir.
Em páginas avassaladoras, Márai fala-nos do amor, da amizade, do ciúme, da solidão, do desejo e da morte e aponta directamente ao centro da alma humana.
A última frase deste excerto levantou-me, no entanto, uma interrogação: a partir de uma certa idade, e qual é ela, estamos condenados a viver apenas de recordações?
Recuso-me a aceitar que assim seja...