Espera-se de nós que, durante um quarto de século, estejamos embrenhados nos treinos para concretizar o que foi exaustivamente planeado; depois, dão-nos uma ou duas décadas, no máximo, para mostrar aquilo de que somos capazes; passado esse tempo...acabou. Na bolsa da "vida activa", as nossas acções entram em queda progressiva até deixarem de estar cotadas. Ora , esse período considerado agora de perda correspondia dantes a uma fase de estabilidade e solidez no mercado, à qual era possível chamar..."maturidade". Mas, agora, a maturidade deixou de existir e, quando já nos mandaram definitivamente para fora dos mercados de capitais, chamam-nos piedosamente "seniores", "idosos" ou de "terceira idade"... A partir daqui, é-nos concedido um rol de benesses: passeios da junta de freguesia, com oferta dos bonés amarelos sobrados da colónia de férias das crianças; mesas novas no jardim, para os torneios de sueca; meia dúzia de lugares no metro; desconto na CP, mesmo que não se possa subir para o comboio; frequência da universidade da terceira idade; festa dos cem anos, no lar, com bolo de velas e reportagem televisiva...
De que serve, pois, darem-nos papel para acrescentar páginas à nossa biografia sabendo, à partida, que ficarão em branco, porque nos tiraram a caneta da mão?
Vasco Prazeres, NM