segunda-feira, outubro 2

Dá que pensar

Espera-se de nós que, durante um quarto de século, estejamos embrenhados nos treinos para concretizar o que foi exaustivamente planeado; depois, dão-nos uma ou duas décadas, no máximo, para mostrar aquilo de que somos capazes; passado esse tempo...acabou. Na bolsa da "vida activa", as nossas acções entram em queda progressiva até deixarem de estar cotadas. Ora , esse período considerado agora de perda correspondia dantes a uma fase de estabilidade e solidez no mercado, à qual era possível chamar..."maturidade". Mas, agora, a maturidade deixou de existir e, quando já nos mandaram definitivamente para fora dos mercados de capitais, chamam-nos piedosamente "seniores", "idosos" ou de "terceira idade"... A partir daqui, é-nos concedido um rol de benesses: passeios da junta de freguesia, com oferta dos bonés amarelos sobrados da colónia de férias das crianças; mesas novas no jardim, para os torneios de sueca; meia dúzia de lugares no metro; desconto na CP, mesmo que não se possa subir para o comboio; frequência da universidade da terceira idade; festa dos cem anos, no lar, com bolo de velas e reportagem televisiva...
De que serve, pois, darem-nos papel para acrescentar páginas à nossa biografia sabendo, à partida, que ficarão em branco, porque nos tiraram a caneta da mão?

Vasco Prazeres, NM

11 Comments:

Blogger wind said...

Olha, ainda não cheguei lá, nem sei se chegarei, mas nem sei que dizer sinceramente.
beijos

2:41 da tarde  
Blogger a said...

c'est vrai!

Cada vez mais se desvaloriza a idade e a experiência em função da jovialidade e do sex appeal. quem arranja emprego não são pessoas capazes e experientes, são miúdas giras, de minisaia e com umas grandas mamas.

estou a exagerar, um bocado... mas a verdade é que as pessoas tende a venerar a juventude e a desprezar os velhos. e é errado, os velhos têm muito para nos ensinar!

4:08 da tarde  
Blogger AQUILES said...

Boa síntese.
No fundo, no fundo, ser-se-á sempre vitima do que se fez em tempos a outros seniores. E o tempo é o carrasco. Claro que auxliado pelos actuais juniores.

10:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Só que pode não ser bem assim. A maturidede, essa ninguém nos tira. O facto de nos poderem pôr fora do trabalho (cada vez menos)não é o fim do mundo desde que tenhamos interesse noutras coisas (tomara a mim). Porque não a Universidade da terceira idade? Aprender é tornarmo-nos mais jovens; e a juventude está no espírito e na cabeça.
Beijinhos.

5:13 da tarde  
Blogger AQUILES said...

Eu acho muito giro as boas ideias. Mas parece-me que grande parte dos veteranos, pelas condicionantes da situação do país, estão mais preocupados em sobreviver. Podem não tirar a maturidade, mas estão a esforçar-se imenso para degradar a dignidade de vida a muita gente.

7:12 da tarde  
Blogger ELOQUENTE said...

Simplesmente fantástico. Não nos conhecemos Andorinha, cheguei até aqui pelo teu blog estar nalgum outro de quem conheço. Gosto da forma como escreves, é cosmopolita, como um fio da navalha ao entrar pela nossa realidade a dentro.
Passa pelo meu blog, poderás gostar, ou talvez não. WWW.ELOQUENCIAS.BLOGSPOT.COM

11:07 da manhã  
Blogger andorinha said...

Ana afonso,
Que bom ter-te aqui de novo.:)
Aproveitemos cada minuto que passa.
Beijinhos.

Wind,
Olha, a mim o que me entristece é que muitas pessoas da chamada terceira idade que seriam ainda capazes e gostariam de ter uma actividade que as preenchesse, são pura e simplesmente rejeitadas devido à idade.
Espero que se lá chegarmos, consigamos viver esses anos em plenitude.
Parece que há uma idade em que se decreta que a vida "acaba" e sou totalmente contra isso.

a,
É isso, vivemos numa era em que se idolatra a juventude, como se realmente toda a experiência acumulada ao longo de uma vida não servisse de nada.
Esquecem-se que os jovens de hoje também um dia serão "velhos".

Aquiles,
As coisas parece que se perpetuam, não é?
Vamos repetindo os erros de gerações anteriores.

mfba,
Claro que a maturidade, essa ninguém nos tira.
Mas podemos sentir-nos jovens de espírito e querer ser mais activos mesmo a nível profissional e muitas vezes essa possibilidade é negada aos "seniores". Acho injusto.

Aquiles,
Isso também é uma grande verdade. Este país continua a ser uma tristeza:(

5:29 da tarde  
Blogger andorinha said...

Eloquente,
Obrigada pelas simpáticas palavras, que no entanto considero imerecidas.:)
Mais logo vou até ao Eloquências.

5:36 da tarde  
Blogger Unknown said...

Pouco mais tenho a acrescentar às palavras de Vasco Prazeres... deixei as minhas e as do Saramago num post lá pelo meu recanto a prpósito do dia internacional do "idoso"...
Apenas constato que a "esperança na qualidade de vida" na "terceira idade" é nula...
Um beijo

6:07 da tarde  
Blogger Bastet said...

Querida Andorinha: curiosamente ainda hoje andei às voltas com esta questão da idade, e com o problema que surge de termos uma sociedade toda virada para a juventude a produtividade, descurando outros valores que são muito importantes e todo o contributo que os ditos "séniores" podem dar a este País e às gerações vindouras. Infelizmente o que se assiste é ao descartar das pessoas idosas como fardos sem valor. A reforma, que deveria ser encarada como algo de positivo, é vista como um fim da vida e do valor pessoal de cada um. Temos um País hipócrita e cada vez mais sem valores. O descartar da terceira idade é equivalente ao descartar do conhecimento, valorar apenas a força e não a experiência.

Dá mesmo que pensar amiga e que chorar!

3:55 da tarde  
Blogger andorinha said...

Ammedeiros,
Infelizmente assim é e não prevejo que o panorama se altere nos tempos mais próximos.:(
É lamentável.
Um beijo

Bastet,
Subscrevo na íntegra as tuas palavras.
A partir de determinada idade as pessoas são olhadas como trastes sem qualquer valor, quando muitas delas ainda teriam tanto a dar de si.
É um panorama desolador.

10:39 da tarde  

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