Nostalgia em dia cinzento

I cried a tear
you wiped it dry
I was confused
you cleared my mind
I sold my soul
you bought it back for me
you held me up
and gave me dignity
somehow you needed me

you gave me strenght
to stand alone again
to face the world out on my own again
you put me high
upon a pedestal
so high that I could almost
see eternity
you needed me
you needed me

and I can't believe it's true
I can't believe it´s you
I needed you and you were there
and I'll never leave
why should I leave
I'd be a fool
'cause I've finally found someone
who really cares

you held my hand when it was cold
when I was lost you took me home
you gave me hope when I was at the end
and turned my lies back into truth again
you even called me friend

Esta é a letra duma canção já antiga. Não me recordo nem do título nem de quem a canta.
Mas existem canções que nos marcam e que associamos a pessoas e a momentos que foram para nós importantes. Esta é a canção que mais me marcou e que "revisito" em momentos de nostalgia.
Andava eu pelos meus 20 anos, bastante insegura em relação ao que quereria fazer da minha vida, à deriva porque nada me fazia sentir realizada, e por isso mesmo a achar que se calhar a minha vida não tinha nenhum sentido. Lembro-me de ter pensado que para viver assim sem horizontes seria melhor não viver.
Não acredito no destino nem em nada desse género, mas realmente quando estava mesmo à beira do precipício alguém me ajudou a não dar o passo em frente. Esse alguém veio a ser o meu melhor amigo durante oito anos. Tínhamos uma relação de amizade tão forte, de tanta cumplicidade, respeito mútuo, camaradagem, visões do mundo e da vida bastante idênticas; nunca voltei a conseguir estabelecer com mais ninguém este tipo de relação.
Um dia as coisas mudaram quase sem darmos por isso.
Duma relação de pura amizade, passámos para uma relação erótica e aí foi o princípio do fim.
Surgiram vários equívocos e mal-entendidos e separámo-nos ficando eu com uma sensação de enorme amargura.....Só pensava - não "ganhei" um amante e perdi o meu melhor amigo. Foram momentos muito duros mas a vida continuou, seguimos caminhos diferentes, mas lá está, no fundo havia de vez em quando esta nostalgia. O que será feito dele? Será que a vida lhe está a correr bem? Será que é feliz? Será que ainda pensa em mim?
Passaram dezasseis anos durante os quais nunca me consegui interessar verdadeiramente por alguém. Tive alguns relacionamentos amorosos aos quais nunca dei muita importância. Pairava sobre todos eles a sombra do Rui.
Percebendo finalmente que isso iria sempre ser um tremendo obstáculo na minha vida, que não me iria deixar nunca amar alguém, decidi procurá-lo para tentar entender porque é que as coisas tinham acontecido da forma como aconteceram e para que finalmente eu pudesse começar a trilhar o meu caminho sem essa sombra que me amargurava os dias.
Ele continuava a morar no Porto e depois de algumas tentativas consegui estabelecer contacto com ele( isto ao fim de 16 anos!!!) e combinámos um encontro.
Estava um bocado receosa porque não sabia que Rui iria encontrar, mas ele estava o mesmo: sensível, inteligente, terno mas com imensos e graves problemas a nível de saúde. Conversámos uma tarde inteira novamente como velhos amigos, falei-lhe de mim, do que tinha sido o meu percurso de vida entretanto e quando por fim lhe perguntei como lhe corria a vida respondeu-me que tinha casado e que tinha uma filha com 13 anos. Estava realizado em termos profissionais, em termos económicos as coisas também lhe corriam bastante bem, só que não era feliz. Disse-me que eu era a mulher da vida dele, que era a única por quem se tinha apaixonado, mas que agora tinha uma filha e tinha toda a responsabilidade inerente à educação
dela e portanto estaria fora de questão separar-se da mulher. Lembro-me que nessa tarde me disse mais do que uma vez: " A vida prega-nos destas partidas. Reencontrámo-nos tarde."
Despedimo-nos sabendo que essa seria provavelmenta a última vez que nos veríamos. No olhar dele li tristeza e ele deve ter lido o mesmo no meu. Nesse dia também eu senti que ele era o homem da minha vida e que acabara de o perder. A vida prega-nos efectivamente crueis partidas.
Isto aconteceu há perto de três anos e lembro-me como se fosse hoje!
Com tudo o que de bom e mau aconteceu, o Rui será sempre um dos homens mais importantes na minha vida. Os momentos bons que vivemos são só nossos e inesquecíveis.
Desculpem se isto tem um tom demasiado lamechas, de telenovela mexicana de baixíssima qualidade, mas de vez em quando a nostalgia bate à porta, que querem?
Hoje foi um desses dias, ouvir esta música e não me lembrar dele seria impossível.