sábado, outubro 6

A osteoporose da alma

"Quantas vezes ouvi na infância: "As crianças não pensam." As crianças pensam. A criança imersa no seu ambiente participa num processo maior do que ela, no qual desabrocha com pouca consciência. Porém, ela tem algo mais valioso do que a consciência: tem a intuição de tudo, tem o saber inocente.
Perderemos essa sabedoria da inocência na medida em que formos domesticados, necessariamente encaixados na realidade à nossa volta.
Queiram os deuses que nesse processo de domesticação sejamos capazes de preservar a capacidade de sonhar. Pois a utopia será o terreno da nossa liberdade. Ou acabaremos como focas treinadas, cumprindo correctamente as nossas tarefas, mas soterrando aquilo a que chamamos psique, eu, self, ou simplesmente alma.
Seremos roídos pela futilidade, tão mortal quanto a pior doença: ataca a alma, deixando-a porosa e quebradiça como certos esqueletos.
A alma com osteoporose."


Lya Luft in Perdas e ganhos

Estou a reler e quis partilhar convosco este excerto que me diz muito.

10 Comments:

Blogger Unknown said...

Apesar de tudo, posso afirmar que ainda me resta o "alimento" certo que impede o desenvolvimento da osteoporose da alma...

Efectivamente existe. Há que combatê-la de várias formas.
Pois, eles não sabem nem sonham...

Adorei o post.

Dois beijos enooormes

1:02 da manhã  
Blogger Jo said...

gostei muito desse excerto. Obrigada pela partilha. Pelo sonho é que vamos...
beijo

10:04 da tarde  
Blogger Sirk said...

Já fui investigar quem é Lya Luft e, pronto, lá vou eu ter de ler o livro.

;)

Boa semana.

:)

10:18 da tarde  
Blogger Bartolomeu said...

Conheci por mero acaso ha uns anos, uma aldeia pertencente ao concelho de Nisa, com o nome de Aldeia de Chão da Velha. Fica a cerca de 11 km da estrada que liga Nisa a Vila Velha de Rodão, no sentido do rio Tejo. Esta aldeia fica no meio de nenhures e é habitada por gente que, aos olhos do citadino, parece saída directamente de uma época quase medieval. Descobri esta aldeia num roteiro de turismo rural, porque alguem se lembrou de adquirir ali umas casas e recupera-las para o dito turismo. Por 3 vezes passei fins-de-semana ali, e como sou assim... a modos que um bocadinho (só um bocadinho) atrevido, fiz amizade com muitas daquelas pessoas. Devo dizer que todos me fascinaram por diferentes aspectos. Pela simplicidade, pela riqueza de experiências de vida, pela franqueza e pela forma natural como encaram a vida e os seus ciclos, em perfeita harmonia e interacção com a natureza. Conheci ainda um personagem especial naquela aldeia. O tio João Louro, homem de noventa e tal anos que tocava uma rudimental concertina e entoava de carreirinha as "modinhas" com que punha o pessoal da aldeia e de outras em redor a "balhar". O Tio João Louro era analfabeto, mas sabia ler.
Tou nada parvo, eu explico, tal como ele me explicou a mim.
Ele lia porque decorou a imagem das palavras.
É!
Do mesmo modo que nós, os alfabetos, decorámos a imagem de cada letra e decorámos a sua sonoridade e a forma de as juntar, o Tio João Louro, aprendeu simplesmente a palávra já construída e a sua sonoridade.
Ora digam lá que aquela gente é que é analfabeta...

8:39 da manhã  
Blogger Rosa said...

Cálcio! Muito cálcio! :)*

7:51 da tarde  
Blogger SpiritMan aka BacardiMan said...

E este governo farta-se de contribuir para a desvalorização da criança, o mesmo é dizer... o vazio dos adultos, a doença mental, etc.

Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos!!!

10:10 da tarde  
Blogger Su said...

gostei desta partilha----gostei

jocas maradas menina ...saudades

8:53 da tarde  
Blogger wind said...

Um bom excerto, muito real e concordo.
beijos

2:02 da manhã  
Blogger José Leite said...

Ainda não tinha ouvido falar nessa "doença" mas ainda bem que está detectada. Parabéns!

3:56 da tarde  
Blogger andorinha said...

Ammedeiros,

Plenamente de acordo, amiga.
Se tentamos combater a do corpo, é imperioso que tentemos combater a da alma.

Beijos*

Mariazinha,
Exacto. Sem o sonho a vida seria uma sensaboria...
Beijos.

Sirk,
Fazes bem, kaxopa:)
É um livro que me ajuda quando estou um bocado em baixo...
Jinhos.

Bartolomeu,
Gostei muito do teu relato.
Por vezes tenho a nostalgia de uma vida assim simples, sem stress, vivida ao ritmo da natureza. Chego a ter "inveja" dessa gente!
Mas depois penso nas vantagens que também existem em viver numa cidade e aí surge a dúvida...
Mas que dá que pensar, dá.

PS: Gosto muito de te ler:)

Rosa,
Agora que isto estava a ir tão bem, com um certo nível...não havia necessidade:))))))))

Spiritman,
Tens toda a razão, Bacardiman:)

Su,
Saudades muitas também, miúda:)
A vida é lixada, porra!
jocas maradas

Wind,
Também concordo:)
Beijos

Rouxinol,
A detecção é o primeiro passo para a cura:)

11:11 da tarde  

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